4. Lidando com a inveja e aproveitando as oportunidades

Depois de dois meses da cirurgia eu comecei a estudar o que Deus fala sobre esterilidade e infertilidade. Na época minha irmã estava tentando engravidar do segundo filho. No dia que ela foi fazer uma ultrassom eu era a única pessoa acordada na casa naquela tarde e fui a primeira a receber a notícia. Eu fiquei feliz por ela! Mas ao mesmo tempo senti inveja por pensar que eu nunca poderei anunciar que estarei grávida. Minha mente voou: verei sua barriga crescer, o chá de bebê, eles comprando roupinhas... E pensei: nunca passarei por isso. 
Meu coração queria se angustiar, mas lembrei da decisão que tinha feito: aceitar a vontade de Deus. No momento que a inveja queria reinar em meu coração eu também tinha que tomar uma decisão: invejar todas as mulheres que engravidam ou me alegrar por elas e saber que principalmente a minha sobrinha que estava por vir, seria uma bênção na minha vida, como eu poderia ser na vida dela. Não foi uma mudança rápida. Demorou até eu poder me alegrar de coração por todas as grávidas anunciando a vinda do seu bebê no Facebook. Todas as vezes que eu via o anúncio de alguma amiga, eu tinha que orar e lembrar que Deus não erra em me permitir ser uma mulher estéril. 
Interessante é que nunca sonhei com uma barriga de grávida ou comprando roupinhas de bebê. Pensava que iria vir naturalmente, depois do casamento, seria mais um passo que eu e meu marido iríamos dar. Meu sonho sempre foi em educar meus filhos nos caminhos de Deus. Poder desde pequenos ensiná-los Quem Deus é, a amar o Senhor como Deus pessoal deles. E assim sempre pensei em adoção. Antes mesmo de me tornar estéril já queria adotar. Salvar crianças do mundo sem amor, para lhes dar um lar, mas principalmente buscar salvar suas almas, levando -os a Cristo. Meu marido e eu ainda não sabemos o que Deus quer: se fertilização em vitro ou adoção. Não entrarei em detalhes sobre a fertilização por que sei que tem muitas questões éticas e que cada um tem sua opinião sobre o assunto. 
Hoje para o penso: por que eu invejava mulheres grávidas se nunca idealizei esse momento para mim? Por causa do meu pecado eu comecei a querer aquilo que me foi tirado. Mesmo nunca me importando com essa parte do processo de ter filhos, fiquei como uma criança birrenta que briga por um brinquedo só porque lhe foi tirado, mesmo que há 5 minutos nem se importava com ele. Nosso coração é assim. Damos importância ao que perdemos e esquecemos o que Deus ainda nos preservou. Eu ainda tenho um útero e os dois ovários. Ainda ovulo e posso passar pela fertilização em vitro. Eu também posso demonstrar amor para minhas duas sobrinhas e ajudá-las a conhecer mais de Cristo e do Seu Amor. 

Meses depois da cirurgia também comecei a trabalhar em uma escola particular. Auxiliava crianças especiais em sala de aula e dava devocionais para os adolescentes. Aquele emprego foi um presente de Deus e veio no momento certo. Quando meu pecado poderia querer me afastar de qualquer contato com crianças, o Senhor me deu amor por aqueles pequenos e muitas oportunidades de ver como podemos ser bênção na vida deles. Meu coração doia ao ver pais que davam de tudo para seus filhos, mas não davam atenção. Entre eles, o Vitor. Vou chamá-lo de Vitor afim de preservar sua identidade. Ele era filho de professora, dona de outra escola em Roraima e seu pai um político conhecido da cidade. Vitor tinha 7 anos e ainda não sabia ler nem escrever e ao menos sabia as letras do alfabeto. Como não conseguia acompanhar a turma dava muito trabalho para a professora e tive que acompanhá-lo em sala de aula. Um dia Vitor me disse que seu pai o chamava de burro e um lixo. Tentei ajudá-lo dizendo que não era assim, que cada um aprende aos poucos. No meu coração eu me revoltava a pensar: "Que tipo de pai fala isso para seu filho!" Vitor acreditava em seu pai e não se esforçava nenhum pouco para aprender. Meu coração amava aquela criança como outras que tive a oportunidade de acompanhar. Eram filhos querendo atenção e não mais brinquedos ou roupas chiques. Eram crianças precisando de amor e carinho, mas só recebiam atenção se fossem desobedientes aos pais. Trabalhar em uma escola me fez ver o quanto podemos mudar a vida de uma criança sem ser os pais delas. Podemos dar amor e carinho que elas tanto precisam, mas principalmente falar lhes de Cristo. Elas ainda não estão presas a vícios e outros pecados que os adultos lutam para abandonar. Elas são pecadoras sim, mas seus corações infantis são solos férteis para plantarmos a semente do evangelho. Se não teve a oportunidade de trabalhar em uma escola como eu você pode se envolver com trabalho infantil de sua igreja. Há muitas crianças que vão aos clubes infantis e não tem pais na igreja. Esses são os mais carecidos de amor e atenção porque somente durante a sua aula ouvirão sobre Deus. Seus pais como incrédulos não se preocuparão em ensinar lhes o amor do Senhor. Você pode fazer diferença na suas vidas ao se preocupar com suas almas. 

O mês de maio foi se aproximando e as crianças na escola começaram a ensaiar para o dia das mães. No meu coração voltava aquele sentimento: eu nunca vou participar de uma homenagem assim. Nunca receberei flores de uma criança ou ouvi-la dizer mamãe. O Senhor mais uma vez derramou sua Graça e me fez aceitar que tudo bem nada disso acontecer comigo, por que Ele tinha um plano especial para mim. 
É a sua Graça que hoje me faz ficar muito feliz ao ouvir alguém anunciar sua gravidez. Exulto porque sei que vem de Deus o poder de gerar vidas. Os filhos são heranças do Senhor e é Ele Quem decide quem receberá esses presentes. O Senhor é bom em dar a minhas amigas o poder de criar filhos e oro para que sejam guiados nos caminhos de Deus. O Senhor também é bom em não me permitir ter filhos para poder olhar com mais atenção a crianças que têm pais, mas não recebem amor e carinho. Nosso coração pode gerar filhos, amando crianças órfãs de amor. Pelo testemunho da Palavra de Deus também podemos gerar filhos na fé, crianças salvas da perdição e do poder do pecado, que no futuro se tornarão pais que conduzirão seus filhos no caminho de Deus. 
Não olhe só para o que Deus tirou da sua vida. Aproveite as oportunidades que Ele tem te dado para ser uma bênção na vida de crianças que são órfãs de amor. 

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